quinta-feira, 21 de julho de 2011

Esperar, o quê?

Texto publicado na coluna "Panorama Político", no jornal A União (21/07/2011)

Não dá para ter certeza sobre o que é mais triste após a enxurrada registrada na Paraíba, desde o final de semana passado. Se são os danos provocados pela intensidade das chuvas ou a falta de competência e compromisso dos gestores públicos. Em tempos de crise humanística, os desabrigados e desalojados sofrem duplamente. Primeiro pela perda de bens materiais e emocionais. Depois, com a falta de perspectiva de reconstrução diante de uma classe política que não se une, onde os interesses de alguns grupos se sobressaem diante da desgraça alheia.
No início da semana, mantendo um contato coletivo, o governador do Estado chamou todos os prefeitos envolvidos na tragédia natural para um planejamento estratégico. Pediu relatórios de danos, necessidades individuais e o que poderia ser oferecido pelo Município. Explicou ainda o que era possível naquele momento por parte do Tesouro Estadual e que buscaria ajuda da União.
Acostumados com um tipo de tratamento individualista e assistencialista, somos obrigados a ver gestores municipais que não entendem a necessidade de colaboração com as instâncias Estadual e Federal para atender os flagelados das chuvas. Alguns saíram da reunião com o governador ‘detonando’. Criticavam o fato de não saírem dali, como de costume, com uma cesta de benefícios para levar aos seus munícipes. Esse modelo assistencialista, muito usado para ganhar benesses eleitoreiras, não é prática do atual governo que busca o compartilhamento de deveres, não apenas o “toma lá, dá cá” utilizado por outros.
A insatisfação por não sair com o “chapéu cheio” fez com que alguns prefeitos sequer fizessem a minimamente a sua parte – informar os danos e necessidades ao Governo do Estado para as providências em conjunto. Até ontem, dois dias após a reunião do governador com representantes de 26 municípios – entre prefeitos e secretários -, ainda havia quem não compreendesse a necessidade de informá-lo.
Para não perder mais tempo, o governador amanheceu ontem em Brasília para solicitar a ajuda financeira e de condições técnicas para socorrer as vítimas e reconstruir as cidades atingidas. Enquanto ele estava na capital federal, houve quem soltasse nota através de sua assessoria que levaria prefeitos em caravana para pedir a mesma ajuda, nos mesmos ministérios percorridos pelo chefe do Executivo estadual.
Ora, que coisa mais sem propósito. Por que não unir forças, seguindo governador e parlamentares de oposição – pelo bem dos paraibanos flagelados pela chuva – para bater nas portas do Governo Federal. Mais ainda, uma semana depois da ida solitária do governador. Por pura divergência política. A última eleição foi há nove meses e a próxima daqui a mais de um ano. Será que alguém se apercebeu disso e que são mais de 14 mil pessoas a sofrer perdas.
Senhores parlamentares e gestores, há uma semana atrás essas pessoas que hoje vivem o drama da perda da dignidade e aconchego do lar, viviam sonhos de futuro. Para agricultores que perderam a lavoura, a expectativa de colheita dos frutos de meses de trabalho duro. Para os jovens que ocupam dormitórios improvisados em salas de aula, a esperança era de voltar às mesmas salas para estudar, com o início do segundo semestre.
Por que não ganhar tempo e reduzir o sofrimento de tantas pessoas, deixando as rusgas políticas de lado. Afinal, todos são gente!