quarta-feira, 24 de maio de 2017

Sem coragem de mostrar a cara

Muito se falou nos últimos dias, após a revelação de gravação peça de delação premiada em que o presidente Michel Temer ouve relatos de crimes sem reagir constitucionalmente, de que o governo peemedebista precisa ser encerrado e um novo presidente eleito. Juristas baseiam pedidos de impeachment na Constituição, e outros códigos, pelo afastamento do governante e punição aos envolvidos. É pela mesma Constituição que a decisão sobre abrir ou não processo de impeachment - após mais de 10 pedidos protocolados - fica nas mãos de uma única pessoa, o presidente da Câmara dos Deputados. O que coube a Eduardo Cunha (cassado e preso por corrupção, entre outros crimes), agora está nas mãos de Rodrigo Maia (investigado por corrupção, citado em várias investigações como ativo nas negociatas e outros atos indecorosos). Não há recurso, a decisão sobre ter ou não processo de impeachment é de Maia, e ponto final. É muito poder para uma criatura só. Se chamam a Corte mais alta da Justiça Brasileira de Supremo, na verdade, o supremo é o presidente da Câmara, em caso de impeachment do presidente da República. Há ainda muitos que defendam a participação popular para pressionar uma limpeza nas instituições brasileiras. Acredito que sob efeito da vergonha, do sentimento de ‘traição’ e da perda de esperança na classe política, a grande maioria sequer cogita ir às ruas ou até mesmo às redes sociais para cobrar a saída dos presidentes da República, da Câmara e do Senado por, no mínimo, grave quebra de confiança. Afinal, afora os sentimentos que atingem o cidadão comum, não há lideranças confiáveis que puxem essas manifestações pela liberdade e saneamento moral das instituições públicas. Quem pode acreditar que um membro do partido envolvido nas denúncias, que não são poucas, possa motivar alguém - minimamente convencido de ser uma pessoa honesta. Infelizmente, temo que não há saída para essa mobilização coordenada e uníssona pela recuperação do estado democrático de direito, sem as interferências nocivas e imorais do capital sobre as decisões. O problema é que a corrupção virou regra - do furar a fila à venda do voto. Seja por dinheiro, emprego para si ou para outro. Como pôr a cara na rua, quando tudo parece ser corrupção. Mas é preciso mostrar quem quer essa mudança. (Publicado na coluna Lena Guimarães, jornal Correio da Paraíba, 24/05/2017)

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